01 setembro 2011

A via crucis do corpo

1974

Clarice Lispector

Este livro de contos nasceu a partir da encomenda de um editor que contou três histórias para Clarice, cujo assunto, como ela disse, "era perigoso". E ela completa: "Se há indecências nas histórias a culpa não é minha.” Nestes treze contos, mais do que revelar os desejos inconfessáveis do corpo, insinuam-se os delírios da alma crivada pelas experiências da velhice, da morte, do desejo carnal e dos momentos de fracasso.



  
Ele chorou um pouco. Era um belo homem, com barba por fazer e abatidíssimo. Via-se que havia fracassado. Como todos nós. Ele me perguntou se podia ler para mim um poema. Eu disse que queria ouvir. Ele abriu uma sacola, tirou de dentro um caderno grosso, pôs-se a rir, ao abrir as folhas. Então leu o poema. Era simplesmente uma beleza. Misturava palavrões com as maiores delicadezas. Oh Cláudio – tinha eu vontade de gritar – nós todos somos fracassados, nós todos vamos morrer um dia! Quem? Mas quem pode dizer com sinceridade que se realizou na vida? O sucesso é uma mentira”.


Fonte: www.claricelispector.com.br/1974_Aviacrucisdocorpo.aspx

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